terça-feira, 5 de maio de 2009


CANTAR NA LITURGIA OU CANTAR A LITURGIA?


Quando somos responsáveis por cantar em alguma celebração normalmente nós dizemos que vamos “cantar na missa”, porém, o correto seria dizer que vamos “cantar a missa”, “cantar a própria liturgia”.

A Missa é a mais completa das orações, nela atualizamos o Mistério Pascal de Cristo de forma ritual e memorial. Todas as palavras, gestos, símbolos, cânticos fazem parte de um todo, não são partes independentes umas das outras, mas interdependentes, conexas. Por isso, usamos a expressão cantar a Missa, pois o que cantamos, assim como o que rezamos deve estar em perfeita harmonia com o que é celebrado. A música e o canto não são um apêndice, um adereço, mas parte essencial e integrante da celebração, pois ela nos ajuda a penetrar com maior eficácia no mistério que celebramos e favorece a oração.

Os cânticos litúrgicos têm a sua inspiração nos textos bíblicos e nos textos litúrgicos: são bíblico-litúrgicos. Esse é o critério básico para a escolha de um repertório para a Missa. Nem todo cântico de cunho religioso ou devocional pode ser cantado na missa. Em uma celebração as orações, as leituras, a homilia, os comentários e os cânticos devem estar sintonizados entre si, devem ser concordes, falar do mesmo mistério que a liturgia daquele dia está contemplando.

Nas chamadas partes fixas da Missa ou Ordinário as letras dos cânticos devem ser conforme aquilo que seria rezado, como, por exemplo, o Ato penitencial, o Hino de Louvor, o Santo, o Pai-nosso ou o Cordeiro de Deus. Esses cânticos constituem o próprio rito da celebração. A lei da oração é a lei do canto e da música na liturgia. Já os cânticos que acompanham algum rito como o cântico de entrada, o cântico de apresentação das oferendas, o cântico de comunhão, por exemplo devem condizer com a índole do tempo litúrgico, do Evangelho do Dia ou da festa ou solenidade.

Da mesma forma, as melodias devem obedecer ao espírito de cada rito; ora expressando a alegria de estarmos reunidos na casa de Deus; ora súplica e arrependimento, ora ainda, expressando louvor e ação de graças. O canto do ato penitencial, por exemplo, deve ser num ritmo lento e num tom suplicante; já a Aclamação ao Evangelho deve ser cantada de forma vibrante e alegre.

Cantar a liturgia é uma arte que aprendemos a partir do momento que prestamos atenção no sentido de cada rito da missa, de cada texto, de cada gesto. Como disse um sábio cardeal em uma entrevista sua: “A Liturgia não nos pertence... ela é de Deus, dom oferecido à humanidade por Cristo e em Cristo. Não somos nós que a fazemos, ela é que nos faz. Não a possuímos, é ela que nos possui... devemos deixar-nos conduzir por ela.

Nos artigos seguintes aprenderemos um pouco mais sobre o que é a liturgia e a arte de cantar a liturgia. Concluímos com uma citação do da Constituição Sacrossanto Concilium do Concílio Vaticano II sobre a Liturgia: “A tradição musical da Igreja é um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido com o texto, constitui parte necessária ou integrante da Liturgia solene.(...) A música sacra será, por isso, tanto mais santa quanto mais intimamente unida estiver à ação litúrgica, quer como expressão delicada da oração, quer como fator de comunhão, quer como elemento de maior solenidade nas funções sagradas” (n. 112).

Ronaldo Vicente – 05/2009